ALCOOLISTA E CODEPENDENTE
HOMENS MENINOS E MULHERES MÃES
Não
é incomum ouvirmos de mulheres, em diversos contextos, reclamações sobre a
bebida dos maridos ou parceiros.
Nas
festas, eles sempre querem ser os últimos a sair, enrolam a mulher com a
palavra “saideira” para uma última cervejinha que nunca é a verdadeira última, e
bebem sem limites. Elas chamam uma, duas, dez, vinte vezes para ir embora e
sempre acabam cedendo as artimanhas dos parceiros, para não correrem o risco de
serem “as chatas”, nem as “estraga festas”.
Esta
cena tem como pano de fundo um problema, aliás dois problemas, quase sempre
negados, ignorados e principalmente minimizados: o alcoolismo e a
codependência. O padrão relacional alcoolismo-codependência afeta silenciosamente muitos
casais e consequentemente, muitas famílias.
O
alcoolismo, denominado cientificamente como Síndrome de Dependência do Álcool – SDA (clique aqui para ler o
texto fonte), é definido como o uso abusivo do álcool, que dentro de um
contexto biológico, familiar, social e cultural, acaba promovendo dependência
física e psicológica. Em consequência, há um aumento da tolerância ao álcool
(com necessidade de beber mais para fazer um efeito pequeno) e depois surgem os
sintomas de abstinência que favorecem a formação de um ciclo vicioso, onde é
necessário beber mais para aplacar tais sintomas. Assim, a dependência se
retroalimenta e o indivíduo fica preso nesse ciclo doentio.
Diferentemente
da SDA, existe mais silenciosamente o problema do uso nocivo do álcool, quando as pessoas abusam do álcool, mas este
não gera o comprometimento direto em suas atividades de rotina. O resultado não
é uma dependência de acordo com os critérios diagnósticos do DSM e CID, no
entanto, esse padrão de consumo gera um impacto nos sentimentos dos indivíduos
e em suas relações mais próximas.
Para
além do prazer que o uso do álcool proporciona, questões psicológicas também
estão envolvidas no uso nocivo e na SDA, como a necessidade de anestesiar
sentimentos do passado ou aliviar o estresse da rotina pesada semanal.
É
nesse contexto que se encontram as mulheres que reclamam da bebida dos seus parceiros.
Eles são pessoas normais, trabalham e têm atividades sociais adequadas, mas
fazem uso nocivo do álcool afetando suas relações amorosas.
Por
outro lado, a codependência (conferir
livro referência) é definida num sentido mais amplo como uma adicção a pessoas,
comportamentos ou coisas, sendo uma ilusão de tentar controlar os sentimentos
interiores através do controle de pessoas, coisas e acontecimentos exteriores.
Essas
pessoas, diante de um quadro familiar de origem que não supriu suas
necessidades de amor, entendem que precisam cuidar dos outros para serem
amadas, e passam a reproduzir essa perspectiva em suas relações adultas.
E
no caso dos relacionamentos afetivos, as mulheres codependentes ficam adictas
aos homens alcoolistas, de forma tão elaborada que o próprio sentido de
identidade pessoal – o eu – é brutalmente restringido e superlotado pelos
problemas e pela identidade dessa outra pessoa. E assim, as mulheres se
transformam em mães dos parceiros, e estes por sua vez se tornam seus filhos.
Um casal que se complementa na doença de cada um.
Mas
por trás do problema do casal, encontramos um grande vazio emocional que tanto
o alcoolista quanto o codependente tenta preencher ou anestesiar com o uso da droga substância ou o desfocamento da
própria vida fazendo do cuidado uma droga.
Esse
vazio emocional refere-se as carências infantis, as necessidades emocionais não
preenchidas, a uma fome por amor. São pessoas que tiveram relações familiares
problemáticas, podendo incluir o próprio alcoolismo paterno e a negligência materna,
que não deixam de ser violências explícitas ou implícitas. Só que a do
alcoolista mais fácil de enxergar do que a do codependente, que fica mascarada
como bondade, preocupação, cuidado e zelo.
As
dinâmicas familiares que possuem o alcoolismo, a negligência, a violência, o
abuso físico-sexual-emocional, assim como outros problemas, geram
feridas profundas que ficam marcadas por toda a vida. Temos a tendência de
repetir essas feridas na vida adulta e nos relacionamentos, inconscientemente,
atraindo parceiros que tenham conceitos de amor, imaturidades emocionais, e
(in)disponibilidade emocional semelhantes as nossas histórias de origem.
Dessa
forma, apesar do alcoolismo e da codependência serem comportamentos opostos,
eles são duas faces de uma mesma moeda emocional, e é por isso que esses
parceiros se aproximam, se apaixonam e se casam, repetindo o ciclo afetivo que
aprenderam em suas famílias de origem.
Diante
desse quadro na relação a dois, como sair do papel materno e como sair do papel
de filho?
Ambos
parceiros, alcoolista e codependente, precisam crescer emocionalmente, o que dá
muito trabalho e requer muitas vezes um trabalho de psicoterapia. Isso porque é
necessário entrar em contato com as feridas infantis, destrinchá-las,
compreendê-las, aprender admitir e a lidar com a dor do vazio emocional de
origem, enxergar as necessidades não atendidas do passado e do presente
aprendendo a cuidar delas. Além disso é preciso aprender sair desses papéis viciados e a funcionar em outros papéis diferentes.
Falando assim parece fácil, mas fazendo uma analogia ao trabalho realizado com as dependências químicas, este é também um processo
de longo prazo, com recaídas e recomeços, pois sair de padrões relacionais viciados é tão difícil quanto sair da droga. Quem se habilita?
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Referência da Figura
1 e 2 – Imagens retiradas do google imagens
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