DEIXAR IR
No ano passado, conheci uma pessoa que me despertou um interesse
afetivo. Infelizmente não foi recíproco. Por motivos relacionados a minha
história de vida e ao meu padrão de relacionamentos anteriores, eu acabei
ficando apegada a essa pessoa. Segundo meu terapeuta, o meu apego está ligado a
dificuldade de ser rejeitada. Mas quem lida bem com a rejeição?
Há
um mês eu comecei a fazer um curso de Mindfulness – traduzido como atenção
plena, consciência plena. No curso aprendemos meditações, e outras práticas e técnicas para treinarmos nossa mente a ficar mais plenamente focada no
momento presente.
Como
atitudes Mindfuness, foram apresentadas: ser grato, ter a mente de
principiante, aceitar, ser paciente, não lutar, ser generoso, não julgar,
confiar e o “deixar ir”. Este último
me tocou mais, me despertando para um trabalho pessoal em relação ao desligamento
do afeto que citei acima.
Essa
ideia me estimulou a refletir sobre a experiência do apego nas relações
amorosas. A princípio, podemos pensar que ficamos apegados às pessoas que nos
fazem bem, ou que nos causam sentimentos amorosos. Sim, isso também acontece, mas
o mais contraditório do apego, é que muitas vezes ficamos apegados a
experiências ruins e que nos fazem sofrer.
Podemos
fazer uma conexão com nosso conceito de
amor, que foi construído nas nossas relações mais primitivas com nossos
pais, irmãos e demais familiares de origem. Nem sempre o amor é vivido como
algo bom e prazeroso. Muitas vezes há violência, negligência e abandono. Essas
experiências nos marcam profundamente, levando-nos a entender o amor como tendo
aspectos muito negativos.
Portanto,
quando nos apegamos a situações e pessoas que nos fazem mal, provavelmente
estamos repetindo o conceito de amor negativo das nossas origens.
Outro
aspecto do apego tem a ver com as nossas expectativas.
Muitas vezes nos apegamos ao nosso próprio desejo, refletido na pessoa do
outro. Fixamos na ideia, não no real. O parceiro mostra muitas vezes que não quer
ou não é capaz de corresponder aos nossos anseios, mas não queremos enxergar, e
ficamos presos na ideia de ter um relacionamento com aquela pessoa, mesmo
quando ela mostra o oposto.
Nesse
sentido, estamos aprisionados numa fantasia infantil, e temos dificuldade de
elaborar o luto da nossa criança
interior que ainda deseja ser amada de uma forma bastante carente e
idealizada pelo outro. Ela ainda fica tentando conquistar o amor do outro, sem aceitar sua própria impotência nesse
quesito, sem aceitar a derrota. Acaba se agredindo mais ao ficar presa onde não
é amada.
Complementando,
outro aspecto importante associado ao apego é nossa tendência, desejo ou
vontade de ter controle sobre os
sentimentos do outro ou sobre nossa própria vida. Temos uma prepotência enorme
quando acreditamos consciente ou inconscientemente nesse controle. Muitas
coisas, de fato, podemos controlar, mas uma grande parcela nos escapa das mãos.
Em termos de sentimentos, amor e relacionamentos, essa parcela é bem
significativa.
Aceitar
que não temos esse controle, nos faz aceitar nossos sentimentos e os dos outros
sem cristalizar a experiência, sem impor autoritariamente nossa vontade, nem
desqualificar nossas emoções, respeitando ambos os lados.
O
apego também pode estar relacionado a uma experiência
positiva do passado que se acabou. As pessoas mudam, os relacionamentos
mudam, a vida é muito dinâmica. A partir dessas mudanças as pessoas ficam
diferentes e muitas vezes acabam perdendo suas conexões, suas afinidades e
aquilo que inicialmente as uniu. Temos muita dificuldade de aceitar o que
acabou. Queremos perpetuar o amor, mas o amor também é uma experiência
dinâmica, um “bichinho com asas”, incompatível com gaiolas e enquadramentos
fixos. Nos apegamos ao que foi bom, mesmo quando não conseguimos manter a
qualidade da experiência atual. A falência e a separação são dolorosas.
O
apego nos deixa presos. Nossa energia e investimento ficam focados em um lugar
muito específico, limitando nossa experiência e a abertura para novas fontes de
alegria e prazer no aqui e agora.
Quando
nos desapegamos, nossos olhos se abrem para o novo e para todas as
possibilidades de vida que existem ao nosso redor.
Deixar ir é permitir que vida se atualize sem
opor resistência aos quesitos de realidade. Isso não significa que não possamos
lutar pelo amor e pela pessoa desejada. Significa sim saber reconhecer nossos
limites e nossa dignidade, até onde podemos e devemos ir, respeitando também os
limites do outro.
Ao
realizar esse trabalho comigo mesma, ao conseguir investir no desligamento do meu
afeto passado, pude vivenciar outras experiências afetivas, que me ofereceram
parâmetros novos e melhores de relacionamentos. São aprendizados que vão
abrindo possibilidades de trocas mais maduras, dignas e saudáveis. Eu sempre me
deparo com a sensação de ampliação da percepção amorosa.
O
apego pode paralisar e até matar internamente. O amor é uma experiência viva
que não sobrevive atrás de grades e muros. É preciso “deixar ir”,
constantemente, seguir o fluxo, não resistir à correnteza... novos rios, novos
mares...
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagram: @solteirosecasais
Referência da Figura:
1. Retirada do Google imagens
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