1+1 = 1+1
A CONTROVERSA INDIVIDUALIDADE NOS RELACIONAMENTOS
Frequentemente
na prática clínica com casais, procuro trabalhar a importância de se criar um
espaço para cada parceiro ter seu momento de indivíduo sozinho.
Essa
ideia na nossa cultura social e religiosa é muito controversa, pois em geral,
os casais fazem muito esforço para serem um só. Já dizia o discurso religioso
do casamento que dois viram um, “um só corpo e uma só carne”.
Recentemente,
lendo o livro “Uma nova visão do amor” do Flávio Gikovate, clareou pra mim mais
um pouco dessa dificuldade de se viver a individualidade dentro de um
relacionamento. Ele argumenta que as nossas relações amorosas, são o reflexo da
nossa busca pela fusão perfeita da simbiose mãe-filho no útero e nos primeiros
momentos fora dele, no aconchego materno. É como se, além de não elaborarmos a
perda dessa separação com a mãe, criássemos nosso conceito de amor baseado
nessa fusão, e tentássemos alcançá-la novamente, projetando essa busca na vida a dois.
E
se o amor é entendido como fusão, esperamos que nossos parceiros correspondam
essa expectativa, também se fusionando a nós, o que compromete a vivência da
individualidade e da liberdade, pois o que não é fusão será entendido como
desamor.
Assim,
buscamos relações onde 1+1=1. O problema dessa busca é que, apesar dela parecer
ser possível no momento da paixão, ela não se sustenta por si só. Cada pessoa
tem diversas funções na vida e não consegue estar 100% disponível para o
parceiro o tempo todo. As falhas na simbiose perfeita aparecerão naturalmente
quando alguém não puder corresponder alguma das expectativas do outro.
Gikovate
também aponta que somos inteiros que se sentem metade. Esse sentimento de ser
metade não é passível de ser preenchido pelo externo, exatamente porque o outro
é falho. Somente cada indivíduo é capaz de buscar preencher o próprio vazio
interno, na medida em que se responsabiliza por descobrir suas necessidades
físicas, emocionais, intelectuais e espirituais, e quando passa a cuidar delas de
forma atenciosa, amorosa e constante.
E
apenas quando cada indivíduo consegue se sentir mais inteiro é que as relações
podem se transformar em 1+1 = 1+1, modelo que considero mais saudável, havendo
espaço para o indivíduo e para o casal.
Numa
relação de dois inteiros, existem menos expectativas de suprimento fusional dos
vazios emocionais. E por outro lado, existe mais disponibilidade de doação de
um amor maduro para o outro.
Nesses
casos, a individualidade não se torna uma ameaça para o outro, pois existe uma
segurança interna de que cada um cuida de si, e o cuidado do outro vem como um
acréscimo sadio e prazeroso. Não há uma dependência do cuidado do outro e se ele
for embora haverá muita tristeza, mas não haverá esfacelamento do eu, desde que
não haja mais fusão.
Ao
contrário do que pensam os inseguros, a vivência da individualidade enriquece
os relacionamentos, pois quando o outro pode ir “para o mundo” e viver novas
experiências, ao voltar para o nosso lado ele traz toda riqueza que
experimentou.
Lembrei-me
do livrinho do Rubem Alves, “A menina e o pássaro encantado”. Quando a menina
deixava seu pássaro livre para viajar o mundo, ele voltava com as penas
multicores e lhe contava milhares de histórias fantásticas. Quando ela prendeu
seu pássaro na gaiola, movida por sentimentos de ciúmes, insegurança e medo do
abandono, ele foi ficando com cores escuras e sem vida.
Falando
em sentimentos, Zuenir Ventura em seu livro “Inveja - Mal Secreto”, define o ciúme como
sendo um desejo de exclusividade do objeto amado, um não desejo de dividi-lo
com ninguém. É um sentimento que combina com meninas inseguras, com gaiolas e
inviabiliza ainda mais a individualidade.
A
não permissão para a vivência da individualidade nos relacionamentos reflete
padrões infantilizados de vínculos com parceiros imaturos, inseguros e com um
conceito de amor baseado na fusão.
A
individualidade só deixará de ser uma ameaça na medida em que tivermos uma
autoestima fortalecida, um amor próprio bem constituído e a liberdade de amar
sem ser correspondido.
Você
já evoluiu até este ponto, leitor? Ou ainda está buscando um amor de fusão? Deixe seu comentário no espaço abaixo!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Referência da Figura
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Penso e sinto que estamos cada vez mais caminhando para relacionamentos onde a individualidade propicia boas e intensas trocas entre os parceiros, pois há espaço para que ambos se desenvolvam nas suas potencialidades e cresçam juntos também. Para isso é necessário maturidade!
ResponderExcluirVerdade Dorita, é preciso crescer para viver a individualidade nos relacionamentos, pois se temos expectativas infantis, a individualidade é sentida como abandono.
ExcluirObrigada por deixar seu comentário!
Um abraço, Adriana
Bom acho que como tudo na vida...exige equilíbrio....ate que ponto essa individualidade é respeito ao espaço do outro...e ate que ponto passa a ser uma falta de empatia pelo outro em prol dos próprios interesses.
ResponderExcluirOlá Janaina
Excluircom certeza! É necessário o equilíbrio. O problema é que na nossa sociedade há um desequilíbrio pendendo para a dependência (que não significa empatia) e não para a individualidade. O que costumo encontrar na prática clínica é uma falta de espaço para a individualidade e esta sendo conotada de forma negativa. Acredito que além da empatia também é necessário construir segurança e confiança nos relacionamentos para que o espaço para a individualidade não seja uma ameaça.
Agradeço seu comentário!
Abraço
Adriana